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CAROLINA

Numa época em que surgem tantas vozes no Fado e em que a nossa canção nacional vive um momento áureo, também os nossos sentidos tornam-se simultaneamente mais exigentes, mais seletivos. A seleção que deveria ser algo tão complexa, é efetivamente simples e natural quando escutamos Carolina.

Carolina nasceu em Hamburgo (Alemanha) a 12 de Abril de 1984 e veio para Portugal com apenas 5 meses, mais propriamente para Trás-os-Montes, onde teve muito cedo o seu primeiro encontro com o Fado. O pai de Carolina ensinara-lhe fados como a célebre “Rua do Capelão” e a mãe cantava-lhe músicas do cancioneiro português.

Com 10 anos, Carolina mudou-se com a família para o Porto, onde passou toda a sua juventude. A menina que gostava de Fado, gostava também de Teatro, de fantoches, de “mundos do faz-de-conta” e todas as brincadeiras estavam sempre ligadas às artes.  Nesse mesmo ano a madrinha inscreveu-a no Coro Infantil do Círculo Portuense de Ópera. Estreou-se no mesmo ano como Amahal na ópera de Gian Carlo Menotti no Teatro Nacional Carlos Alberto, pela mão da Professora Palmira Troufa que a acompanhou durante 11 anos.

 Aos 15 anos, frequentou um curso técnico-profissional de Design tendo vindo posteriormente a frequentar Artes Plásticas-Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Ao mesmo tempo estudava Canto no Conservatório. Quase que se antevia a escolha.

De Amália recorda-se igualmente de dois discos marcantes, “Amália no Café Luso” e o “Busto”, que a mãe comprou poucos dias depois de Amália morrer e que Carolina lhos “roubara” para os escutar vezes sem conta. Foi Amália que a cativou, rendendo-se assim ao timbre, beleza e modo de cantar da fadista.

O grande salto viria a ser dado pouco depois – respondendo ao desafio de uma amiga – numa noite de Fado realizado num bar do Porto (Pop), onde cantou os únicos três fados que sabia de cor impressionando todos os presentes. Por ali conheceu também António Zambujo, Miguel Araújo, entre outros. Foi nesse preciso momento, com 18 anos, que decidiu começar a cantar. Curiosamente, é também nessa altura que é convidada a integrar o elenco de uma das melhores casas de fado do Porto: a Casa da Mariquinhas.

Pouco depois a vida de Carolina dava novamente outro salto. Alguns amigos que a costumavam ouvir indicaram-na para fazer uma audição para o musical “Amália”  no Teatro Sá da Bandeira. Mais tarde, quando se preparava para se inscrever novamente na faculdade recebe um telefonema de Filipe La Féria para convidá-la a integrar o elenco da Canção de Lisboa, desta vez vestindo a pele de Beatriz Costa. Fez as malas e três dias depois estava a viver em Lisboa. Carolina decidiu seguir aquilo que nesta altura já era um sonho. Tinha 21 anos. Fez de Amália, de Beatriz Costa e viveu inúmeras e marcantes experiências que jamais esquecerá onde o Fado continuava fortemente presente na sua vida, assim como o desejo de o cantar.

 

 

Num dia em que o musical fez um período de pausa, decidiu ir a uma casa de fados, mais propriamente ao “Clube de Fado”, uma das mais prestigiadas casas de Lisboa. Cantou e não saiu mais de lá. Viria a integrar o elenco deste local até aos dias de hoje, fazendo nessa altura ela própria, uma pausa aos palcos dos musicais.

Foi neste local que conheceu grandes músicos como Mário Pacheco e José Fontes Rocha e que conviveu (e ainda convive) com grandes compositores e poetas, quase em jeito das tertúlias de outrora.

Também pela mão do conceituado guitarrista Mário Pacheco, Carolina estreou-se em palcos internacionais, num espetáculo em Varsóvia. Seguiram-se várias atuações que incluíram países como a Holanda, Espanha, Estados Unidos e Bélgica.

Em 2009, Carolina integrou a programação apresentada pelo Museu do Fado no cruzeiro temático realizado, onde deu voz a temas compostos por Frederico Valério, num espetáculo coordenado por José Pracana. No ano seguinte, a fadista voltou a apresentar-se na nova edição deste cruzeiro mas desta vez para interpretar, para além dos temas de Frederico Valério, fados compostos por João Nobre, Frederico de Freitas e Raul Ferrão.

Em 2012, estreou em Bruxelas o filme "O Cônsul de Bordéus", realizado por Francisco Manso e João Correa. Carolina interpretou três temas musicados por Henri Seroka, apresentando num deles uma letra da sua autoria. Esta foi uma produção portuguesa que gerou grande expectativa, uma vez que o argumento se construiu em torno das acções do diplomata Aristides de Sousa Mendes e as interpretações estiveram a cargo de grandes nomes do cinema nacional como Vitor Norte, Carlos Paulo ou Leonor Seixas.

Um dia, a pressão para a gravação de um disco deixou-a a uma menor distância do seu destino e surgiu a oportunidade de gravar com uma das mais conceituadas editoras nacionais. Aqueles amigos da tertúlia foram os primeiros a ajudar e foi criado um repertório extraordinário, vestindo a sua própria pele e que nos encanta por ser tão português.

Carolina sempre seguiu os seus instintos, os seus caminhos e em cada passo que dá é vivido um momento a que se entrega com toda a dedicação. Carolina sabe que está no início do seu caminho mas encara o fado de uma forma tão sublime que deixará certamente a nossa alma inquieta durante os próximos tempos.


 

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